por Rodrigo Drable
O 3º Sargento Heber Carvalho, do BOPE, uma das quatro vítimas no confronto entre bandidos e as Forças de Segurança na Operação Contenção, deixou a esposa, Jéssica Araújo, de apenas 34 anos, e uma filha de 12, que via no pai o grande herói que ele foi — para ela e para toda a sociedade.
Heber era Caveira, como são conhecidos os policiais militares do Batalhão de Operações Especiais. Um homem íntegro, que se destacou pela dedicação à polícia e escolheu servir no batalhão mais eficiente do mundo. Eficiente e arriscado, pois o BOPE só entra onde ninguém mais consegue. Ele sabia dos riscos.
O que faz de alguém um herói não é uma mera circunstância eventual, mas a decisão prévia de colocar sua vida em risco pela preservação das vidas alheias. É assumir riscos diariamente. Acordar, olhar para a esposa e para a filha e, apesar de todo o amor dentro de casa, sentir o dever com a sociedade e a convicção de arriscar tudo o que se tem para que outros tenham o mesmo direito. É um desprendimento fora de série — algo que só um herói encontra força moral suficiente para fazer.
Pois é… se alguém perdeu algo de valor nessa operação, foi uma menina de 12 anos. Perdeu o herói que a acordava com um beijo todos os dias. E Jéssica perdeu o homem que a tratava como uma princesa.
E sabe o que é mais curioso em tudo isso? A grande mídia quer perguntar apenas à família dos bandidos o que acharam da operação. E o que você acha que a família do bandido vai responder?
Mas alguém se lembrou de que Jéssica também estava chorando. E resolveram perguntar a ela o que pensa sobre tudo isso. Por óbvio, esperavam que uma mulher fragilizada pela perda do marido gritasse, aos prantos, que tudo aquilo deveria acabar. Mas sabe o que ela disse?
“Eu, como esposa de policial — viúva hoje —, digo com total certeza que eles [os policiais] têm que continuar. Eles não podem parar. Têm que continuar operando. Infelizmente, a vida do meu marido acabou, mas existe muita gente do bem que está cansada de violência…”
Precisamos fazer uma séria reflexão. A coisa é tão complexa e profunda que, justamente aqueles que realmente sofreram perdas, foram os primeiros a encontrar forças para continuar e dizer:
“Parar seria tornar em vão a perda das pessoas que amamos.”
Nossos heróis, tombados em combate, deixaram um verdadeiro legado para a sociedade. Um herói de verdade não poderia ser casado com uma mulher qualquer. Jéssica está sendo digna de Heber — uma verdadeira heroína, que se posiciona como ele a ensinou.
Nosso dever é transformar essa realidade. É enfrentar de verdade. Enxugar as lágrimas, cuidar dos feridos, consolar as famílias — e seguir com o dever. Enfrentar.
Jéssica perdeu seu herói.
Nós ganhamos uma heroína.
Sejamos dignos dela.